sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Tempo Hanseat - O Seminovo - 1ª Parte

Aí o Aguiar me disse: "Pô cara, sabe aquela casa a dois quarteirões aqui da minha, que a gente olhou por cima do muro e só deu para ver que tinha uns carros velhos e uma grande bagulheira espalhada?
Pois é, arrematei o lote todo por R$ 2.000,00. O coroa está precisando limpar a casa e me vendeu três carros e mais tudo que estiver dentro da casa. Tem um troço lá, bem velho, embaixo de uma lona, que você deve querer. Só não sei o que é."
Bem, foi minha vez de pensar: acabei de vender a Lindinha exatamente para arrumar outro carro antigo "no ponto". Esse parece bom.  Vamos pagar para ver: Aguiar, dou R$ 1.000,00 no podrinho.
- Fechado.
Pensei: agora ferrou.
E assim nasceu o Seminovo.
Foi levantar a lona e apareceu isso aí embaixo.




Deu um pouco de trabalho livrar a suspensão dianteira para o reboque conseguir
puxá-lo para cima:



                                               

Chegando em casa, tentamos lamber a nova cria, mas tivemos que nos render à realidade. Vou precisar de um egiptólogo para desvendar essa múmia.

 




O jeito foi pesquisar: Tempo Hanseat 1952, fabricado na Alemanha, talvez montado no Uruguai, Três rodas, dois cilindros, dois tempos, 400 cm³, 15 HP, velocidade máxima 50 km/h.
Nunca havia visto nada tão esquisito. Mas até aí, tudo bem. Tudo sempre pode piorar:
Tração dianteira, com motor, caixa, corrente de transmissão, tudo apoiado diretamente sobre a roda e girando tudo junto, quando se vira a direção.


 

Depois da santa consulta à internet, encontramos no danado a plaqueta original de identificação. Foi a gota d'água: esse bicho tem que voltar à vida!


Definimos que faremos a caçamba de carga em madeira, mais charmosa do que a metálica e também disponível entre os modelos do Hanseat.





Após a análise da desgraça, deu para ver que a peça básica é o tubo central. Ou seja, o chassis do Hanseat nada mais é do que um tubo mecânico de 100 mm com espessura de uns seis milímetros, onde são soldados os órgãos mecânicos.
Resolvi encontrar um caldeireiro que transferisse para um novo tubo as suspensões e os suportes da cabine e da caçamba.
Meu sobrinho Marcelo indicou um chileno que havia acabado de fazer um suporte em inox para a lancha dele e, assim, fomos apresentados ao Ernan.
Gostei de ver que ele domina vários tipos de soldagem e também pesou o fato dele ter se mostrado animado a reconstruir o Seminovo. Contrato feito, vamos em frente.

Na foto abaixo, Ernan já tinha comprado o tubo e trazido para ele a suspensão dianteira, a chapa de suporte frontal da cabine e os pedais.


Na próxima, ele fez o quadro da caçamba, os suportes da suspensão traseira e o suporte traseiro da cabine.


O conjunto da caixa com a corrente de transmissão e a roda dianteira, que estavam guardados em um armário, foram acoplados à suspensão dianteira.




A caçamba de carga ficou uma graça 
                                                                                             
                                           


Quanto à cabine, Ernan optou por recuperar a original, e isso não tem sido nada fácil.                  

                                           


Está indo, mas está um parto.

                                                       

Enquanto isso, o Ernan nos apresentou ao Amon, para este montar o motor e fazer a parte elétrica.
O motor estava desmontado, peça por peça. Elas estavam cobertas por uma sujeira grossa, mistura de óleo, poeira e resina: um cascão. Comprei 30 litros de diesel e coloquei tudo de molho. Aos poucos  foi ficando possível ver alguma coisa, e foi muito bom ver que praticamente todas as peças estavam ali.
O João Brancoli me deu um carburador de avião e compramos platinados e condensadores de fusca.
Deixei essa mixórdia na casa do Amon e o coitado começou a montar. Primeiro ele montou o arranque. Foi muito legal vê-lo funcionar: agora seria possível testar o motor quando fosse montado.
Depois, Amon conseguiu soltar todos os rolamentos do eixo de manivelas. Com os anéis e a junta do cabeçote, que mandei fazer em São Cristóvão, pudemos iniciar a montagem.
Foi outra emoção chegar na casa do Amon uns tantos dias depois e ver, espalhada pelo chão, uma confusão infernal de fios, ligando bateria ao motor e arranque e automático e e...
O motor ficou bonitinho e fez um barulho legal.




Hoje, o Ernan está terminando a recuperação da cabine e o Amon está aguardando que eu leve o Seminovo, para terminar a afinação do motor e fazer a parte elétrica.

Como é que é, Ernan? Isso fica pronto ou não fica?

3 comentários:

  1. Um golpe de sorte terem achado esse Tempo Hanseat. Eu particularmente gosto bastante de triciclos, acho uma opção bem acertada à realidade econômica brasileira, só lamento que esse tipo de veículo não seja tão valorizado por aqui...

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  2. Esse carrinho foi feito na Alemanha em Hamburg pela Vidal & Sohn Tempo-Werk, entre 37 e 56, tinha um motor ILO de 15 HP dois tempos e o segredo é a transmissão que é parte integrante da suspensão. Sou de Marília e lá tinha uma mudanceira "Mudanças da Turma"nas décadas de 50 e 60, eles tinham o Tempo Hanseat e o Tempo Matador(esse ultimo 4 rodas com um motor VW 1.100 cc em baixo da cabine). Eles eram chamados de carrinhos da Turma. Quando acabou, venderam para particulares, cheguei a ver um rodando até o começo da década de 70. Na índia fabricaram até o ano 2000, com outra motorização. Na Australia também fabricaram. Isso foi uma boa soouçao na Alemanha que estava quebrada com a crise de 1929, tiveram outras marcas que fizeram o mesmo tipo de automóvel. Eu já procurei achar os que tinham em Marilia mas acho que se acabaram. Tinha um em Diadema, da famila Shimada, mas sumiu. O pessoal não dá bola para esse veículos, mas se lessem o que eles representam e a joia que é a mecânica deles como recurso para a época que surgiram, a historia é bonita. Parabens pelo interesse a recuperar essa jóia, e que de tudo certo. Abcs

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