terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

O Jeripoco - Parte 1

O jeripoco nasceu da "necessidade" de se atravessar a Reserva de Poço das Antas, RJ, onde criam os micos-leões dourados. De carro não entra, tudo bem. Mas como a reserva é cruzada pela linha férrea, uma caminhada pelos trilhos pode ser legal. Mas aí é que pega: vai caminhar sobre dormentes e pedras soltas. O jeito foi fazer um trolley com uma bicicleta ergométrica em cima e cruzar a reserva pedalando.

 
 
Adílson, meu torneiro preferido para protótipos, fez a primeira geração a partir de uma vara de metalon e uns mancais de um velho agitador de tinta. Isso foi em 2009. As rodas foram fundidas em alumínio pelo Zezinho de Santa Bárbara, Niterói. O freio, uma sapata direto nas rodas de trás, com um pedaço de pneu fazendo o papel de lona. Os testes foram na Estação do Barreto, à espera da Linha 3 do metrô do Rio chegar a Niterói.
 
                                                                               
 
 
                                                                               
 
 
 
 
Em janeiro de 2010, partimos para a estréia do Jeripoco, assim batizado como "marido" da jeripoca, ou seja, nada.
Atendendo perfeitamente à Lei das Probabilidades, o fracasso foi entre total e absoluto: uns dez metros de trilho foram suficientes para a corrente deixar claro que não ficaria no lugar de jeito nenhum e, aliás, uns desses jeitos aí conseguiu foi quebrar o suporte de um dos mancais e sepultar até a possibilidade de seguir empurrando o Jeripoco com um bambu. Veni, vidi, vinci!
Cruzamos a Reserva de Poço das Antas melancolicamente em um dos vagões que havíamos feitos para serem movidos a bambu e que também nos traíram, exigindo os desgraçados que os puxássemos com cordas. As rodinhas ficaram pequenas demais e geraram muito atrito com dez em cima. Paciência.
 
 
 
Imagina um dia inteiro sentado em um estrado de bambu, montado sobre essa bosta aí em cima, debaixo de um sol miserável.
 
 
 
Consertado sem nunca ter andado, o Jeripoco 1ª geração só teria seus dias de glória na serra de Angra dos Reis, RJ, no início de 2012. Isso é que foi aventura!
Do alto da serra, em Lídice, até Angra são 35 km, com uns seiscentos metros de diferença de altitude. O caminho alterna longos trechos enfiados em vales de Mata Atlântica com alguns momentos belíssimos em que o mar de Angra aparece ao longe. Além disso, como é descida, tem sensação de velocidade, vento e o barulho de trem, que o Jeripoco faz, mesmo sem ter motor.
 
 
 

 
 
Levamos o Jeripoco desmontado no rack da Caveirinha (próximos capítulos). Pela foto, até parece que o Luís vai ajudar a tirar o bichinho do alto. - Ai minhas costas. Eu tenho coluna, sabia? Essas coisas.
 
                                                                                   
 
Montamos tudo na antiga Estação Alto da Serra e encaramos logo o primeiro túnel. Um bando de marmanjos gritando babaquices e apitando uma latinha buzina.
 
 
 

Eu, Mike Luís e Aguiar.
                                                                                  


Passamos no Chuveirinho, onde cai água da pedra sobre a linha, e em pontes e túneis espetaculares. Passeião!

                                                                                 

A 2ª geração do Jeripoco foi apenas um face lift . O rapaz ganhou um piso de aço com tapete de Kombi e uma bela pintura. Olha o Kuki fazendo pose.

                                                                   
    
 
                                                                    
Fomos para Passa Quatro, MG e tentamos descer para Cruzeiro, SP. Não deu: logo depois do túnel da divisa, com impressionantes 990 m, o mato começa a fechar e a meros duzentos metros da boca do túnel tivemos que desistir e voltar.
De certa forma a alternativa de irmos da Estação Cel. Fulgêncio até Passa Quatro foi muito legal. O problema é que esse trecho é operado nos finais de semana por um trem turístico. Assim tomamos o cuidado de consultar os operadores do trem e só descemos para a cidade bem depois do trem ter saído na mesma direção.
O pessoal do trem turístico foi tão legal que o Jeripoco pôde durmir junto à venerável Maria Fumaça, em seu galpão.  

Outro passeio do 2ª geração foi a Lídice, RJ, em dezembro de 2012.  O Jeripoco ganhou um par de bancos e buzina pneumática- manual-esporrenta. Foi a turma do trabalho com as respectivas famílias.
Ficamos na pousada que fica bem no encontro da linha férrea com a rodovia. Assim, nos esbaldamos em fazer curtos passeios, ora ao alto da serra, ora na direção da cidade. As mulheres e crianças tiveram sua vez, berraram um pouco além da conta ao verem uma ponte sem guarda-corpo, mas também gostaram muito.

                                                                              
 

                                                                                

                                                                             
 
 


Em maio de 2013, o Jeripoco ganhou sua 3ª geração. Dois pedais foram instalados na frente e saiu a bicicleta ergométrica.

                                                                                
           

Eu, Gustavo, Mike e Luís Alfredo nos deparamos com a serra de Angra bastante castigada por uma chuva anterior, com um festival de árvores e barrancos caídos sobre a linha.
Logo no começo, demos de cara com uma manilha levada pela água e o que restou foi isso aí embaixo.

                                                                         
  

A gente mais carregava o Jeripoco do que andava nele. Na primeira descida, chegamos em Angra às 14:30 h. Agora, eram 17:00 h e estávamos no meio do caminho. Próximo ao túnel que marca a entrada no vale dos bairros Belém e Japuíba, um grande barranco cobriu a linha por uns cinquenta metros. O jeito foi deixar nosso companheiro por ali mesmo e seguirmos a pé.
Encontramos um grande bueiro pouco antes do desbarrancamento, deslizamos o Jeripoco para dentro e o cobrimos com folhas.

                                                                           


É claro que, ao resolvermos seguir andando, a chuva apertou e a noite caiu. Chegamos em Angra às 22:30 h. Catamos um hotel bem mais ou menos, uns hambúrgueres safados e desmaiamos.
E o pobre Jeripoco estava largado no mato.

Um mês depois, não aguentei esperar mais e pedi a Daniel e a Salvador, que não tinham culpa no abandono, que fossem me ajudara trazer meu pobre filhinho de volta à casa. Foi um parto mas valeu.
Subimos até a linha por uma trilha quase em pé e chegamos rápido ao carrinho. Lá estava ele do jeito que havíamos deixado. E nós que pensávamos que outras hordas de loucos também passavam por aquela linha abandonada e carregavam tudo que encontravam pelas beiradas. Besteira.
Deu trabalho, abandonamos os bancos para reduzir peso, mas no fim da tarde estávamos com o Jeripoco meio estropiado, é verdade, mas em casa finalmente.

Resolvi partir para a 4ª geração totalmente radical em relação às anteriores. Como havia comprado uma carretinha para carregar o trolley e esta mede 2,00 m enquanto o Jeripoco media 1,30 m, decidi fazer o New Jeripoco ( ou Next Generation, como queiram) mais comprido.
Além disso, eu tinha ficado encantado com um kit de motor elétrico da Nova Precursor, que conheci em uma feira, em São Paulo. Acabei comprando um de 1 HP semsaber onde iria aplicar. Não precisa dizer que o New Jeripoco passou de trolley a poder ser chamado de locomotiva. Pera aí, menos um pouco. Está bem: temos agora um carrinho de linha.
O Ernan Chileno me castigou um pouco no prazo mas fez um belo trabalho. Agora são seis lugares, um HP e as velhas duas bestas na frente. Vamos ver como ele se sai. O primeiro teste será sábado, 22/02/2014.
O Jeripoco vive!
                                                                                     
                      

                                                                                    



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