O
MÉRGAN
Meu último filho nasceu por inspiração de uma visita que
fiz à Morgan, na Inglaterra. Há muito que tinha vontade de conhecer uma fábrica
de carros cujo galpão principal é a Carpintaria. Os Morgans são um charme só
com suas estruturas da carroceria em madeira, sua pele em alumínio e seus
estofamentos em couro. O espécime mais famoso é o Morgan 4X4.
A visita guiada é uma delícia, vendo os caras curvando a
madeira para os paralamas ou martelando uma chapa de alumínio por horas até
cobrir uma porta. Mas fiquei doido foi quando conheci de perto o modelo de três
rodas.
O ThreeWheeler é o seguinte: motor de 2.0 l em V com 82
HP e tração na única roda traseira. Fiquei doido. Só que trazer um desses para
cá deve transformar as quinze mil libras em uns cento e oitenta mil reais.
Resolvi fazer o meu.
Quando voltei, comentei com meu amigo João Brancoli e ele
me surpreendeu: “motor de moto? Mas eu tenho uma parada lá em Itaboraí. Se
quiser é só buscar e usar”.
Uma oferta dessas não dá para recusar. Fomos com Salvador,
jardineiro da casa de Pendotiba e fiel escudeiro para o aeroclube de Itaboraí
buscar a menina. Era uma Yamaha TDM 225 e estava paradinha paradinha com os
pneus arriados e aquela camadinha de sujeira, mas era nossa para o que
quiséssemos fazer. Então está ótimo. Prendê-mo-la na carretinha (Olha aí,
Temer, nós também mesoclisamos quando queremos) e tocamos para Pendotiba.
Além disso, a ida a Itaboraí nos rendeu a frente do três
rodas também. O Roberto, proprietário do terreno do aeroclube, quando soube do
projeto falou mansamente: “Tem ali na entrada uns restos de uma Towner que se
acabou quando uma árvore caiu sobre ela. Se quiserem, podem ver se a parte da
frente ainda serve para vocês”. Não precisou oferecer duas vezes: no final de
semana seguinte, estávamos lá desmontando a Towner e tirando a suspensão
dianteira, direção e freios para o futuro carrinho. Algum tempo depois, acabei
comprando outra Towner parada já que a suspensão da primeira estava bem
enferrujada, mas foi a doação da “itaboraiense” que definiu o projeto do
carrinho.
Cortamos a frente da moto fora, esticamos duas cantoneiras
e a suspensão dianteira, tudo no chão da garagem, e começamos a “projetar” a
réplica do Morgan.
Com certa facilidade, percebemos que nosso protótipo nunca
chegaria aos pés do Morgan, então decidimos chamá-lo por um nome que lembrasse
seu inspirador mas que fosse proporcional à qualidade alcançada. Assim nasceu o
Mérgan.
Daí para a frente, com a inestimável ajuda do Ringo, o
Mérgan ganhou um chassis e dois bancos.
Deu um pouco de trabalho unir os cabos de embreagem e de
acelerador da Towner aos da moto mas, alguns metros de arame depois, já era
possível acioná-los a partir dos pedais. O freio hidráulico ficou limitado às
rodas da frente, enquanto o freio traseiro da moto passou a ser acionado pela
alavanca de freio de mão da Towner. Os comandos elétricos da moto foram prolongados
até a um guidom que instalamos à frente do volante. Ficou meio esquisito mas,
quer saber, bem prático. Criou-se, sem querer, um ótimo apoio para se entrar e
sair do Mérgan.
Próximo passo, testes: e não é que o Mérgan andou?
Esse vídeo foi feito durante um encontro de amigos lá em
casa e todo mundo quis tirar uma casquinha do três rodas.
Vimos que, com o acréscimo de peso, a aceleração ficou
meio fraca. Assim demos uma bela encurtada na relação de 15X45 dentes para
12X52. Tem que ver agora como o bicho sobe a ladeira pedindo segunda rapidinho.
Claro que a máxima foi reduzida mas, como ainda estamos longe de sabermos como
ficou, para mim já está ótimo.
Próximo passo, carroceria. Até lá.
Que legal ter notícias suas meu caro amigo. Soube que vc tem uma oficina mecânica mas não sabia que estava criando estas máquinas malucas. Um grande abraço. Souza Aguiar.
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